EQUIPE DE REPORTAGEM VAI ATÉ O LOCAL E RELEMBRA: Virou povoado fantasma após 3 anos
Há mais de 3 anos e 3 meses, os olhos dos brasileiros se voltaram para o Piauí, não só pela quantidade de chuva que caiu na época, mas pela tragédia de Algodões, a barragem que rompeu e levou o que havia pela frente.
O 180graus visitou local mais atingido na tragédia, o povoado Franco, que virou um povoado fantasma. A região faz parte da zona rural de Cocal, região Norte do Piaui (a 268 Km de Teresina), pelo projeto ‘Redação na Expansão’, em que os repórteres acompanham os gerentes de expansão do portal cobrindo o pleito nas principais cidades das regiões Norte, Sul, Centro e Sudeste.
O povoado Franco foi o segundo a sofrer a ação da água, porém foi o mais atingido. Para chegar até o local é preciso passar por uma estrada estreita, de difícil acesso e bastante arenosa, por conta da ação da água. Água, aliás, que não teve dificuldade em chegar até o local e destruir o que estava na frente. O morador Francisco das Chagas, disse que a água chegou em menos de 5 minutos ao povoado, cobrindo tudo aquilo que antes era uma vila.
A barragem, que segura o rio Pirangi fica próximo à divisa entre os Estados do Ceará e Piauí fica localizada no povoado de Algodões (daí o nome dado à barragem). Com o rompimento, a água seguiu para o povoado Franco, afetando depois os povoados de Cruizinha, Boiba, Frecheira, Tabuleiro, Angico Branco, Estreito, Gado Bravo, Dom Bosco, Boa Vista e Gameleira.
Na época, se no povoado Franco a água chegou em 5 minutos, foi à noite que ela chegou, com força, a Buriti dos Lopes (a 100 km de distância da barragem), arrancando as laterais de uma ponte e interditando a BR 343 (que liga liga Teresina a Parnaiba). isolando o litoral do Piauí, tanto que, para chegar a Parnaíba e Luís Correia era preciso ir primeiro ao Ceará, pela BR-222, num desvio de mais de 339 km.
CHEGADA AO POVOADO
Após sair do centro de Cocal pela PI 213, com sentido a Viçosa no Ceará, o acesso se dá numa estrada à esquerda que, no início tem asfalto, depois vira estrada de terra, numa longa descida por onde já é possível notar a diferença de paisagem, em relação ao local por onde a água passou e devastou tudo.
Após sair do centro de Cocal pela PI 213, com sentido a Viçosa no Ceará, o acesso se dá numa estrada à esquerda que, no início tem asfalto, depois vira estrada de terra, numa longa descida por onde já é possível notar a diferença de paisagem, em relação ao local por onde a água passou e devastou tudo.
Somente ao atravessar a região por onde a água passou é que se torna possível visitar as casas que continuaram em pé, por estarem num local mais alta (o povoado ficava num vale e a parte baixa foi devastada pelo rio Pirangi).
O início da descida até é asfaltado, mas depois...
No horizonte já é possível perceber a diferença de relevo onde a água passou
Ao fundo a igreja que foi o único prédio que resistiu a força da água
Esse foi o limite por onde a água passou, levando tudo, e o relevo original
Gerente de expansão Marcelo Barradas procurando saber como estava a estrada até o povoado
O caminho é arenoso, ao mesmo tempo que é repleto de pedras e algumas poças d'água, o que faz o carro (que deve ser alto, ao estilo da Hilux do 180graus, e forte para não atolar.
Depois de sair da rodovia, foram mais de 20 minutos para chegar ao povoado.
Ao avistar duas motos voltando, foi necessário confirmar se era possível seguir, para não correr risco do carro atolar, devido à areia movediça que ser forma quando há muito acúmolo de água num terreno arenoso.
POVOADO FRANCO
Com apenas duas casas habitadas, o que se enxerga na região são casas vazias, destruição, esquecimento e isolamento. Realmente parece um povoado fantasma.
Com apenas duas casas habitadas, o que se enxerga na região são casas vazias, destruição, esquecimento e isolamento. Realmente parece um povoado fantasma.
O 180graus reencontrou, depois de 1 ano o casal Maria do Carmo Pereira, 60 anos e Validr Gonçaves Pereira, 48. Os dois trabalhadores de roça contaram que nada mudou desse tempo para cá. "A maior diferença é que não mora mais gente aqui, só a minha família e a família do meu irmão", disse dona Maria do Carmo.
Maria do Carmo perdeu 1 neta e 2 sobrinhas na tragédia: "elas estão no céu agora!...", comenta a senhora que valentemente, continua morando num lugar onde todos, menos ela e a família foram embora.
Uma das únicas casas habitadas do povoado Franco, na zona Rural de Cocal
Dona Maria do Carmo conversa com gerente de expansão Marcelo Barradas do 180graus
"Elas estão no céu agora!...", disse dona Maria do Carmos a respeito da neta e das duas sobrinhas
Gerente de Expansão do 180graus Marcelo Barradas conversando com Francisco, irmão de Maria
Moradora conta como era o povoado Franco antes da tragédia
O irmão de dona Maria, Francisco das Chagas, 51 anos, comentou que toda aquela região era habitada: "tinha tudo aqui, a gente não precisava sair do povoado para fazer coisa alguma, tudo era aqui perto. A agua levou tudo, até a escola, agora meu filho leva mais de uma hora e meia andando", comenta Francisco, que também trabalha na roça.
José Francisco tem 10 anos e é um dos 3 filhos de Francisco das Chagas. Tanto ele quanto as irmãs tem que caminhar bastante (quase uma hora e meia) para chegar à escola, uma vez que o lugar onde estudavam foi levado pela água.
Francisco das Chagas, o pai e José Francisco, o filho
"Ali ficava a escola que meus filhos estudavam", disse Francisco
Francisco das Chagas foi caminhando ao longo daquilo que era o povoado Franco. No caminho casas abandonadas e uma sensação de vazio, além da aparência de deserto, em contrasta à fala do roceiro: "além da escola, havia comércio, havia restaurante, havia muita coisa e, agora, restou isso aqui.
Sr. Francisco conversando com Alex Gomes do 180graus
As casas que ficaram é pé, hoje estão abandonadas, só restam a família dos irmãos Maria e Francisco
A TRAGÉDIA PODERIA SER PIORO moradores contaram como foi, para eles do povoado Franco, o dia 27 de Maio de 2009, dia da tragédia: "por volta das 16 da tarde, a gente ouviu um barulho e não sabia de onde a água vinha, porque parecia vim de todos os lados", disse dona Maria do Carmo.
O irmão dela Francisco comentou que a tragédia poderia ser pior: "graças a DEUS isso aconteceu à tarde, porque se fosse à noite não iria dar nem pra correr por causa do escuro. Não ia dar pra enxegar nada".
Don Maria também comentou que a Eletrobras agiu rápido: "ainda bem que eles cortaram a energia assim que a água começou a invadir os povoados, senão nem iria dar pra escapar, pois todo mundo iria levar um choque, já que os fios estavam todos caindo por causa da água", relembra dona Maria.
Francisco contou também que, como a água chegou em menos de 5 minutos ao povoado, só deu tempo de sair de casa e ir para parte alta, no meio do mato, onde todos ficaram durante toda à noite."Só se ouvia gente gritando com medo porque, quem conseguiu escapar teve que ir para parte alta, onde é só mato, então povo ficou com medo de assombração, de bicho, de a água invadir ali também. Teve gente que ficou em cima das árvores pra poder se salvar, à noite inteirinha", comenta dona Maria.
D. Maria sendo entrevista por Marcelo Barradas do 180graus
Sr. Francisco apontado para o lugar alto onde os moradores conseguiram se abrigar
Trabalhador na roça, Francisco disse que a devastação é tamanham que em muitos lugares não adianta plantar, pois a areia tomou conta. Ele até mostrou o lugar onde era um estrada de piçarra, mas que a água levou e, para poder ver um pedaço da estrada ele teve que tirar a camada de areia de cima.
Francisco ainda mostrou a altura que chegou a água na região onde funcionava a escola, de onde a sobrinhas dele foram levadas e o primeiro corpo foi encontrado.
"Aqui era uma estrada de piçarra", disse Francisco das Chagas
Morador mostra a Marcelo Barradas até onde chegou a água da barragem
TRAGÉDIA ANUNCIADA
Projetada em 1994 e executada em 1995 pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) e Instituto de Desenvolvimento do Piauí (Idepi), a obra custou cerca de R$ 51 milhões e visava perenizar as águas do rio Piranji para usá-la na irrigação, piscicultura, abastecimento das cidades vizinhas e acima de tudo, fazer o controle das cheias. O primeiro questionamento em relação à Algodões I apareceu ainda na fase de obras quando o Tribunal de Contas da União questionou o andamento das obras e multou o então presidente da antiga Comdepi (hoje Idepi). Mesmo assim em 2001 a barragem foi inaugurada na gestão do então governador do PMDB, Mão Santa. Com capacidade para 50 bilhões de litros d’água, o projeto foi feito pelo engenheiro Luiz Hernane de Carvalho da Universidade Federal do Ceará, mas a barragem nunca teve sua capacidade aproveitada por completo.
Projetada em 1994 e executada em 1995 pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) e Instituto de Desenvolvimento do Piauí (Idepi), a obra custou cerca de R$ 51 milhões e visava perenizar as águas do rio Piranji para usá-la na irrigação, piscicultura, abastecimento das cidades vizinhas e acima de tudo, fazer o controle das cheias. O primeiro questionamento em relação à Algodões I apareceu ainda na fase de obras quando o Tribunal de Contas da União questionou o andamento das obras e multou o então presidente da antiga Comdepi (hoje Idepi). Mesmo assim em 2001 a barragem foi inaugurada na gestão do então governador do PMDB, Mão Santa. Com capacidade para 50 bilhões de litros d’água, o projeto foi feito pelo engenheiro Luiz Hernane de Carvalho da Universidade Federal do Ceará, mas a barragem nunca teve sua capacidade aproveitada por completo.
Há pelo menos um ano antes da tragédia, a Emgerpi admitiu que várias fissuras foram encontradas na barragem e sempre reparadas com camadas e camadas de cimento. O primeiro vazamento foi detectado em junho de 2008, e a partir daí as obras de reparos foram acendendo a dinamite que mais tarde estouraria. Em 2009, um projeto previa a reconstrução de parte da estruturara que mais tarde viria a romper. Projeto este que não foi executado.
O GOVERNO SE ESQUECEU...
Perguntado quantas vezes o governo foi até o local após a tragédia, dona Maria foi categórica: "nenhuma!"
Perguntado quantas vezes o governo foi até o local após a tragédia, dona Maria foi categórica: "nenhuma!"
Na segunda, 27 de Agosto, o episódio completará 3 anos 3 meses e, mesmo durante esse tempo todo, nenhum representante do governo, seja da gestão de W. Dias (PT), seja na gestão de Wilsão (PSB). "O máximo que veio aqui foi representanes da SAS de Teresina e nos visitou, mas do governo não veio, assim como também não veio a indenização que tanto falaram e muito menos virão as pessoas da família, que a água levou a vida delas".
Ironicamente, no dia 10 de Agosto deste ano de 2012, o Instituto de Desenvolvimento do Piauí (IDEPI) deu início à licitação para a construção da nova Barragem de Algodões que já foi avaliada em R$ 105 milhões.
... O 180GRAUS NÃONa despedida as duas únicas famílias que ainda moram no povoado Franco, que já teve restaurante, escola, posto, comércio, fica na esperança de dias melhores, até porque não tem para onde ir e lavar o pouco que tem: uns porquinhos, o cachorro e mais umas poucas galinhas.
Ah, mas Fé, isso eles tem de sobra e, por isso, valentemente tentam seguir a vida num lugar onde a água levou tudo e o governo não trouxe nada.
O governo se esqueceu, mas o 180graus não.
Barragem de Algodões: 52 mil de metros cúbicos de lágrimas - Direitos Humanos
REPÓRTER: Alex Gomes – direto do povoado Franco em Cocal
COLABORAÇÃO: Marcelo Barradas – Gerente de Expansão
COLABORAÇÃO: Marcelo Barradas – Gerente de Expansão
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